O Ninguém

A roupa velha, suja pelo tempo de uso, veste a pele corcódea, enegrecida pelo desuso do sabonete, como as unhas, tingidas de negro noite.

O andar, curvado pelo tempo, prenuncia o cabelo oleoso, luzidio, branco e prata, assertivo apenas à passagem das mãos tortas, rebelde onde se lhes escapa.

Os lábios, gretados, sopram as estórias que lhe fazem companhia, memórias que ninguém ouve.

A sua existência é inocente e esquecida: quem ele lembra, dele não se lembra; ou não vive.

E apaga-se todos os dias.

A carcaça não esconde o que é. Esconde o que foi.


[Publicado na Fanzine "COCOnut" p.17]

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